CASA DE CULTURA
MARIO QUINTANA
Terça a domingo, das 10h às 20h
Casa de Cultura Mario Quintana
R. dos Andradas, 736 - Centro Histórico
ARTISTAS:
Anna Costa e Silva & Nanda Félix
Anna Costa e Silva
Rio de Janeiro, Brasil,1988. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.
Nanda Félix
Rio de Janeiro, Brasil, 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.
Por favor leiam para que eu descanse em paz é um filme instalativo que nasceu da descoberta inesperada de memórias de MC, avó de Nanda Félix. No envelope encontrado após a sua morte – no qual se lia a frase que intitula a obra –, a artista deparou-se com um laudo psicológico que organizava em tópicos a saúde mental de sua avó e um conjunto de cartas que MC trocara com um padre por mais de 16 anos. A correspondência relatava sensações, experiências de solidão e opressão no casamento, bem como a passagem de MC por uma clínica psiquiátrica para tratar uma depressão pós-parto. O trabalho de Anna Costa e Silva e Nanda Félix abre um dispositivo de escuta para outras mulheres contarem suas histórias, criando um espaço coletivo para elaborar e ressignificar traumas pessoais. A experiência de silenciamento vivida no passado, de uma intensidade revelada apenas após a morte de MC, transforma-se em um estímulo para que outras mulheres abram envelopes e, juntas, transformem traumas em voz.
C. L. Salvaro
Curitiba, Brasil, 1980. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
A instalação de C. L. Salvaro apresenta uma reflexão sobre a presença ativa do corpo no espaço apesar da limitação física à qual o próprio trabalho nos submete. Ao criar uma espécie de jardim suspenso, pelo qual o visitante passeia tendo contato ora com aquilo que está abaixo ora com aquilo que está acima da terra, Em suspenso propõe um reposicionamento sobre a contemplação da paisagem. O visitante encontra-se imerso em um campo bruto onde é possível perceber a ação do tempo. A estrutura da obra está interligada ao espaço, deixando à mostra a fragilidade de sua composição. Em um instante, tudo parece prestes a desabar, porém, como a respiração presa antes do mergulho, essa apreensão diante do colapso iminente é aliviada pelas aberturas na malha que sustenta a terra, que permitem momentos de respiro.
Carlos Nader
São Paulo, Brasil, 1964. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Entretecendo linguagens que vão do documentário clássico à videoarte, Carlos Nader é acima de tudo um ensaísta. Entre seus temas principais estão a questão da identidade, a sensação do tempo e a relação dos indivíduos com as câmeras em uma era midiatizada. Na obra apresentada nesta Bienal, o artista reflete sobre as imagens presentes nas redes sociais e as tendências narcísicas anunciadas com o advento da internet – hoje levadas ao extremo. Conforme o artista, à medida que avançamos na era da hipercomunicação digital, a história da humanidade vive um paradoxo inédito: quanto mais nos comunicamos, mais nos isolamos. Para furar esse isolamento, Nader ilumina a cúpula da Casa de Cultura Mario Quintana com o seu Farol de segredos. A obra consiste em um site através do qual é possível compartilhar, por escrito e de forma anônima, os segredos mais íntimos e importantes. Esses relatos são, então, traduzidos para o código Morse e transmitidos por sinais luminosos de um potente holofote.
Felippe Moraes
Rio de Janeiro, Brasil, 1988. Vive e trabalha entre São Paulo e Rio de Janeiro, Brasil.
A ideia de tornar visíveis fenômenos antes imperceptíveis aos sentidos está no centro da produção poética de Felippe Moraes. Com Movimento Pendular #1, o artista recria em grande escala o experimento científico do pêndulo de areia. Ao ser colocado em movimento, o pêndulo deixa um rastro no chão, descrevendo elipses e espirais que nunca se repetem. Essas linhas são conhecidas, na matemática, como figuras de Lissajous, e assemelham-se aos desenhos das galáxias. A obra de Moraes aproxima-se também do apontamento descrito n’A Tábua de Esmeralda, do alquimista egípcio Hermes Trismegisto: “O que está embaixo é como o que está no alto”. O trabalho, portanto, oscila entre a ciência e o ocultismo, a apreciação de um fenômeno físico e a contemplação meditativa, o transcendente e o imanente. O desenho resultante assemelha-se às mandalas efêmeras construídas com areia por monges tibetanos, ou pontos riscados com pemba por entidades de Umbanda, Candomblé e outras religiões de matriz africana. A delicadeza complexa dos desenhos se desfaz com as correntes de ar e o passar do tempo, em um processo entrópico que não permite que nada esteja estanque.
Fyodor Pavlov-Andreevich com Olga Treivas
Fyodor Pavlov-Andreevich
Moscou, Rússia, 1976. Vive e trabalha entre Londres, Inglaterra, e São Paulo, Brasil.
Olga Treivas
Moscou, Rússia, 1983. Vive e trabalha entre Suzdal, Rússia, e São Paulo, Brasil.
Nem sempre o entretenimento é aquilo que esperamos. A ilusão do prazer pode colapsar de repente, transformando-o em esforço cansativo. Essa premissa é o ponto de partida para Antifurniture, projeto desenvolvido por Fyodor Pavlov-Andreevich em parceria com a arquiteta Olga Treivas. A obra consiste em um parque temático cujas atrações causam estranhamento à fisicalidade humana ou tornam essas circunstâncias totalmente desconfortáveis. O espaço reúne objetos-esculturas que transformam o corpo em corpo de resistência, em corpo político ou corpo de guerra – aqui há uma alusão direta à situação do país dos artistas, que travou uma guerra contra a Ucrânia em 2022. A delicada relação entre um elemento óbvio de entretenimento e a tristeza da fragilidade e transitoriedade do corpo humano leva os visitantes que vivenciam Antifurniture à uma nova compreensão de sua própria fisicalidade e dos elos que ligam o corpo rotineiro ao corpo de declaração.
Héctor Zamora
Cidade do México, México, 1974. Vive e trabalha na Cidade do México, México.
A obra de Héctor Zamora nasce como uma resposta direta às características dos prédios que compõem a Casa de Cultura Mario Quintana e que delimitam a Travessa dos Cataventos. A distância que existe entre as duas fachadas cria uma singularidade espacial. As varandas propõem um jogo de aproximação entre os dois lados, lembrando dos varais e das roupas penduradas nas ruas e travessas de pedestres de muitas cidades ao redor do mundo, sobretudo em bairros populares. Esse tipo de varal quebra com as noções de privacidade ao exibir, de maneira involuntária porém consciente, as roupas de quem ali habita, colocando também questões acerca do anonimato de quem pendura sua intimidade. Zamora apresenta um conjunto de 21 varais que recebe lençóis coloridos pensados pelo artista como pinturas tridimensionais. Os tecidos pendurados criam jogos cromáticos com três tons. A obra de Zamora busca proporcionar uma experiência única aos passantes da Travessa dos Cataventos. A obra propõe um momento de alegria colorida através do qual faz um comentário político sutil ao opor o momento histórico e levar ao público uma vivência emocional através do jogo da luz, da cor e do vento.
Janaina Mello Landini
São Gotardo, Brasil, 1974. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
A instalação de Janaina Mello Landini promove a ativação de uma experiência afetiva pela via da conexão indivíduo-meio. A artista convida o visitante a passear por uma sala com uma entrada e uma saída claramente visíveis. O interior, contudo, é entrecortado por uma sequência de “grupos de força”, estruturas conceitualmente construídas por conjuntos de elásticos que se repetem e se somam no espaço, criando uma aparência caótica. À medida que o corpo avança nesse emaranhado, os conjuntos elásticos se deformam e fazem vibrar o espaço, criando novas camadas de experiência. A sonoridade que surge a partir do movimento dos elásticos é um dos pontos fundamentais do trabalho. Trata-se de uma composição harmônica escrita pelo músico Paulo Santos. A música foi decomposta em 16 canais distribuídos pela instalação, que podem ser ativados conforme o corpo vai atravessando o espaço. Em contraponto à construção dos elásticos de acordo com uma ordenação quase invisível, o rastro sonoro do corpo pode ser conduzido do estado mais harmônico ao estado cacofônico, mas sempre randômico.
Karola Braga
São Caetano do Sul, Brasil, 1988. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
As conexões entre cheiros, palavras e memória são centrais na pesquisa poética de Karola Braga. O projeto Em suas mãos surpreende o visitante em um espaço inusitado: os banheiros dos espaços expositivos. Saboneteiras confeccionadas em latão são acompanhadas por sabonetes líquidos com diferentes aromas, que variam desde os mais familiares até os mais complexos, convidando o visitante a revisitar ou criar memórias. Já em Lágrimas, terra e crisântemo, um lençol é embebido em cheiro de luto – formado pelos aromas que dão título à obra – e, preso em um varal, libera seu aroma quando movimentado pelo vento. A artista inverte a ideia de assepsia relacionada a um lençol limpo, branco, secando no varal, provocando o visitante com o cheiro que dele se desprende.
Mazenett Quiroga
Lina Mazenett & David Quiroga
Bogotá, Colômbia 2014. Vivem e trabalham entre Berlim, Alemanha, e Bogotá, Colômbia.
Forças invisíveis são acolhidas neste trabalho de Mazenett Quiroga para criar uma experiência de inspirar, sentir, escutar e impregnar-se de substâncias que alteram estados de consciência. Healing Forest é composta por diferentes tecnologias digitais e biológicas. Por um lado, a iluminação em LED azul, muito presente nas telas dos aparelhos eletrônicos e que suprime a síntese de melatonina, o hormônio do sono, afetando os ciclos circadianos; por outro, espalhada na instalação por meio de umidificadores, a tintura de trombeteira, planta nativa das regiões tropicais da América do Sul que exala perfume à noite e é muito usada por culturas indígenas do continente em preparações médicas e cerimônias religiosas e espirituais. Segundo a pesquisa dos artistas, a planta permite a comunicação com o inconsciente e ajuda a entrar em contato com tudo que está oculto. Além de ser uma experiência mística, a instalação de Mazenett Quiroga funciona como uma terapia e tratamento de bem-estar que visa esconjurar, exorcizar e curar traumas deixados pela pandemia, especialmente a coronasônia – insônia causada pelo stress dos tempos de isolamento e considerada uma segunda pandemia que afetou não apenas nossas vidas, mas também nosso mundo de sono e sonhos.
Panmela Castro
Rio de Janeiro, Brasil, 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.
O foco da poética de Panmela Castro é o que ela chama de "busca incessante de afeto”. No centro de sua produção estão as relações de alteridade e as questões ligadas ao sentimento de pertencimento. A artista desenvolve obras a partir de diferentes memórias, transitando pelas ruas como uma andarilha em um processo de deriva afetiva, em busca de novos vínculos e conexões com aquilo que a cerca e com a arte. Na Bienal, Castro apresenta uma série de cinco instalações de spray sobre espelho, espalhadas em diferentes espaços (Casa de Cultura Mario Quintana, MARGS e Cais). Mulher pioneira na pichação, prática até então majoritariamente masculina, a artista usa suas vivências para evocar a sensação de transgressão que cada um de nós carrega, com frases escritas na ausência de olhos julgadores. A pichação é deixada para os outros, ao passo que, por estarem escritas em espelhos, quem lê repete as frases para si mesmo.
Quase-oração
Diego Groisman
Porto Alegre, Brasil, 1979. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil.
A performance artística Quase-oração nasceu como forma de sensibilizar as pessoas sobre a gravidade da pandemia da covid-19, homenagear as vítimas e suas famílias e propor uma forma de cura para o trauma coletivo. Ao enunciar e denunciar cada morte, a performance dá voz aos dados numéricos aos quais fomos diariamente nos habituando. Realizada em lives nas redes sociais, a ação propunha romper com o clima de “normalidade” do ambiente virtual. Realizados em duplas, como forma de apoio e testemunho, os vídeos compõem um grande corpo de memória para que essa tragédia nunca seja esquecida.
Tino Sehgal
Londres, Inglaterra, 1976. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha.
Reconhecido como um dos artistas mais importantes de sua geração, a aclamação da crítica de Tino Sehgal deriva de sua prática artística radical que assume a forma de "situações construídas": encontros ao vivo entre visitantes e aqueles que encenam a obra.
Sua beleza efêmera repousa na especificidade fugaz do encontro, onde os jogadores muitas vezes envolvem os visitantes com sua participação ativa na construção da peça. O abandono de Sehgal da produção material em favor da experiência vivida é, no entanto, alcançado com uma sensibilidade às considerações clássicas de forma, composição e espaço, fundamentadas não apenas na história da dança, mas também nas tradições ocidentais de escultura e pintura.