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Marias de minha vida 2019

Marias de minha vida 2019

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Marias de minha vida 2019

Mirella Maria

(São Paulo, Brasil, 1990)

Dana Whabira

Memória-Afetividade:

 

Esses dois pontos intercalam as relações que tenho com meu processo criativo. Na memória está implicada uma revisão e consolidação de costuras já colocadas pela ancestralidade. Afetividade, porque tudo o que a memória marcou e consolidou traduz-se em expressão artística.

A vivência “Marias de minha vida” parte desses pontos de costura. Alinhavar as memórias de centenas de pessoas que perpassam suas africanidades, colonialidades, desconstruções e reconstruções de memórias que carrego até a minha contemporaneidade. Iniciei essa inquietação tentando compreender um pouco da minha história de vida, e a relação com meu nome final “Maria”. Durante muitos anos, não fazia sentido para mim ter um sobrenome-nome.

Reparei que muitas pessoas familiares ao meu redor também carregavam consigo o sobrenome-nome “Maria” e, como muitos já fizeram, fui atrás da história por trás desse sobrenome-nome. O fato mais intrigante no início dessa jornada era que praticamente ninguém da minha família compartilhava minha inquietação: por que um sobrenome-nome?, sendo esse meu mais um entre os diversos e comuns nomes no Brasil.

Circulando em minha redoma familiar, reparei que o sobrenome “Maria” era e é presente em muitos/muitas de nós, o que me instigou a buscar com maior entendimento os caminhos que criaram nossas raízes com tal sobrenome. Minha família, a família “Maria”, em sua grande maioria formada por pessoas negras retintas, passou por um processo de negação e desconhecimento das origens desse sobrenome. Diferente de um sobrenome de raízes europeias, o “Maria”, infelizmente, se perde nas tentativas de esquecimento e apagamento das memórias negras. E essa narrativa não é apenas minha, mas de diversas famílias negras brasileiras que passaram pela diáspora. Mesmo com dificuldades de recuperação dessas memórias, comecei essa busca com registros orais e fotográficos de personagens da família que têm, em seu nome, um vínculo com a palavra Maria, e que são as que preservaram, em sua maioria, o sobrenome “Maria”. Nessa busca-pesquisa-imersão, descobri a riqueza de familiares que trazem em suas histórias o nome junto, alinhavando com memórias anscestrais.

Aos poucos, o alinhavo vai se tornando rígido, ao ponto de encontrar relações coloniais na construção do sobrenome-nome. O que parecia simples vinha carregado de funcionalidades do Brasil do período escravocrata, escravizador. “Maria” fez e faz conexões como meu sobrenome-nome, como um vínculo religioso e cristão e, também, como nome de proprietários de escravizados que repassam, como representação de seu poder, seu nome em gerações de famílias negras na história do Brasil.

O meu relato para essas memórias vem no molde de transgressão, a fim de fortalecer e resgatar principalmente os personagens “Marias” de sobrenome. Assim, registro em vestido, bordado, imagens de identidades negras de sobrenome “Maria” de minha família. As suas memórias, suas personalidades, seus semblantes são colocados em imagem e tecidos, resgatando e preservando o passado e presente.

Está aqui, está agora, está em mim. O vestido representa uma das possibilidades de relação com o feminino através dessa vestimenta muito utilizada na tradição das mulheres de minha família. Marias que percorreram o tempo, continuam presentes em nome, sobrenome, imagem e memória viva.

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