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ARTISTAS
13ª BIENAL DO MERCOSUL

Adrianna eu

Rio de Janeiro, Brasil, 1972. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Refletir sobre quem somos e o que realmente queremos está no centro da instalação de Adrianna eu. Um garimpo de si propõe um mergulho subjetivo a partir da experiência de sonhar de olhos abertos: adentrar as vísceras daquilo que somos e nos tornamos ao longo da vida. Garimpar deriva do verbo grimpar, que significa subir por um terreno difícil. Em meio a um emaranhado de linhas, peneiras suspensas balançam em um vai e vem incessante. Escadas pintadas de preto remetem ao escuro dos olhos fechados ou àquilo que velamos por não suportarmos, levando-nos pelos caminhos labirínticos e complexos do inconsciente. Em um país garimpado de tantas formas e a qualquer custo, a artista nos coloca diante de uma reflexão urgente.

AnaVitória | Letícia Monte | Carolyna Aguiar

A videoinstalação DSÍ-embodyment, dirigida por AnaVitória e Letícia Monte, propõe um mergulho nos estados inaugurais do corpo, em uma experiência que perpassa a energia pulsante da vida e da morte. A obra foi criada a partir da proposição A Estruturação do Self de Lygia Clark e do sistema de criação Memória autobiográfica de AnaVitória. O corpo performativo debate-se em uma constante luta de vir a ser o que é, desventrando-se em uma dança-luta-ritual curativa e imemorial. Em sua contínua encarnação, o corpo busca recuperar uma relação que se dá no pré-movimento e no pré-verbal, no sonho ou no sonhar acordado, nos quais trocas emocionais se dão em fluxos intensos de introjeções, projeções e reintrojeções. São histórias fragmentadas e sensações do vivido que conduzem à performatividade da memória autobiográfica da performer Carolyna Aguiar e à recuperação de seus afetos moventes.

Anna Costa e Silva & Nanda Félix

Anna Costa e Silva Rio de Janeiro, Brasil,1988. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Nanda Félix Rio de Janeiro, Brasil, 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Por favor leiam para que eu descanse em paz é um filme instalativo que nasceu da descoberta inesperada de memórias de MC, avó de Nanda Félix. No envelope encontrado após a sua morte – no qual se lia a frase que intitula a obra –, a artista deparou-se com um laudo psicológico que organizava em tópicos a saúde mental de sua avó e um conjunto de cartas que MC trocara com um padre por mais de 16 anos. A correspondência relatava sensações, experiências de solidão e opressão no casamento, bem como a passagem de MC por uma clínica psiquiátrica para tratar uma depressão pós-parto. O trabalho de Anna Costa e Silva e Nanda Félix abre um dispositivo de escuta para outras mulheres contarem suas histórias, criando um espaço coletivo para elaborar e ressignificar traumas pessoais. A experiência de silenciamento vivida no passado, de uma intensidade revelada apenas após a morte de MC, transforma-se em um estímulo para que outras mulheres abram envelopes e, juntas, transformem traumas em voz.

Antonio Tarsis

Salvador, Brasil, 1995. Vive e trabalha em Londres, Inglaterra. A pesquisa de Antonio Tarsis está ligada às cidades e aos materiais que ele encontra na rua – objetos como frascos de medicamentos, balas de revólver e caixas de fósforo. Para o artista, o caminhar funciona como modo de conhecer e reconhecer a cidade e seus territórios. Na coleta e transposição de materiais para o mundo da arte, Tarsis transforma elementos em pequenos registros de seu próprio tempo e local, debatendo questões que vão além dos usos cotidianos de tais objetos. O ambiente instalativo feito com caixas de fósforo propõe uma imersão para ativar a memória coletiva em torno desse objeto tão popular no Brasil. A instalação evoca, em um segundo plano, discussões sobre temas importantes como o desmatamento, as minas de carvão, o alimento e a morte.

Beatrice Wanjiku

Nairobi, Quênia, 1978. Vive e trabalha em Nairobi, Quênia. Em sua obra, Beatrice Wanjiku lida com memórias, questões de gênero e reflexões sobre a humanidade a partir de um olhar que nasce de sua subjetividade para endereçar questões e histórias coletivas. A pesquisa de Wankiju centra-se em investigar como vivemos em um estado de permanente transição e adaptação, explorando como os ambientes socioculturais, econômicos e políticos em que vivemos nos afetam. As pinturas fazem parte de uma série em que a artista explora o útero como alegoria de começos, renascimentos e transições. O corpo humano é desconstruído e distorcido até os ossos, expondo a carne e os músculos que o formam, criando figuras que oscilam entre a realidade imaginada e o mundo concreto. Para a artista, o corpo sem pele é metáfora que aponta para a possibilidade de nos despirmos de nossas pretensões e desejos de poder como humanidade, abrindo espaço para explorarmos nossas vidas e o modo como influenciamos o entorno e expondo uma conexão universal.

Bruno Borne

Porto Alegre, Brasil, 1979. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil. As obras de Bruno Borne costumam misturar diferentes escalas de percepção. Sua poética é marcada pela criação de ambientes instalativos, com vídeos criados com computação gráfica e que proporcionam uma experiência imersiva e contemplativa. Gravitas está centrada no encontro entre imagem e som. A partir de uma tomada aérea de Porto Alegre em dois períodos de transição solar – o amanhecer e o entardecer –, uma projeção em uma superfície parabólica de 4,5 metros de diâmetro apresenta movimentos de subida e descida, ampliados até ultrapassarem as nuvens. O movimento da câmera é acompanhado por um toque de gongo sinfônico, que traz à obra uma simbologia íntima, de escala corporal. A ideia de gravidade, fenômeno fundamental na física, responsável pelo movimento dos astros, estrelas e, portanto, pelos ciclos de dia e noite que regulam nosso tempo, aparece como força atratora em contraponto à leveza das imagens aéreas.

C. L. Salvaro

Curitiba, Brasil, 1980. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A instalação de C. L. Salvaro apresenta uma reflexão sobre a presença ativa do corpo no espaço apesar da limitação física à qual o próprio trabalho nos submete. Ao criar uma espécie de jardim suspenso, pelo qual o visitante passeia tendo contato ora com aquilo que está abaixo ora com aquilo que está acima da terra, Em suspenso propõe um reposicionamento sobre a contemplação da paisagem. O visitante encontra-se imerso em um campo bruto onde é possível perceber a ação do tempo. A estrutura da obra está interligada ao espaço, deixando à mostra a fragilidade de sua composição. Em um instante, tudo parece prestes a desabar, porém, como a respiração presa antes do mergulho, essa apreensão diante do colapso iminente é aliviada pelas aberturas na malha que sustenta a terra, que permitem momentos de respiro.

Carlos Nader

São Paulo, Brasil, 1964. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Entretecendo linguagens que vão do documentário clássico à videoarte, Carlos Nader é acima de tudo um ensaísta. Entre seus temas principais estão a questão da identidade, a sensação do tempo e a relação dos indivíduos com as câmeras em uma era midiatizada. Na obra apresentada nesta Bienal, o artista reflete sobre as imagens presentes nas redes sociais e as tendências narcísicas anunciadas com o advento da internet – hoje levadas ao extremo. Conforme o artista, à medida que avançamos na era da hipercomunicação digital, a história da humanidade vive um paradoxo inédito: quanto mais nos comunicamos, mais nos isolamos. Para furar esse isolamento, Nader ilumina a cúpula da Casa de Cultura Mario Quintana com o seu Farol de segredos. A obra consiste em um site através do qual é possível compartilhar, por escrito e de forma anônima, os segredos mais íntimos e importantes. Esses relatos são, então, traduzidos para o código Morse e transmitidos por sinais luminosos de um potente holofote.

Cesar & Lois

Cesar Baio Jundiaí, Brasil, 1978. Vive e trabalha em Campinas, Brasil. Lucy HG Solomon Boston, Estados Unidos, 1975. Vive e trabalha em Escondido, Estados Unidos. A instalação Mycorrhizal Insurrection concebe uma inteligência artificial não antropocêntrica que toma decisões baseando-se na lógica do micélio, propondo reorientar as sociedades humanas e suas tecnologias em favor dos interesses e sobrevivência do ecossistema planetário. Essa utopia ecológica, marcada pela integração de inteligências pré-humanas (microrganismos) e pós-humanas (inteligência artificial), desafia poeticamente as raízes do Antropoceno e propõe uma nova consciência em resposta aos traumas causados pela espoliação global dos ecossistemas. A obra estabelece um canal de comunicação subversivo entre redes de micélio e sistemas de comunicação humanos. Uma inteligência híbrida biodigital, composta por algoritmos de inteligência artificial, micélios vivos (cogumelos) e redes digitais, desafia as raízes da colonização da natureza pela humanidade e preconiza formas de existir que integrem humanos e não humanos em redes ecossistêmicas equitativas.

Claudia Melli

São Paulo, Brasil, 1966. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.

Diluindo o contorno da fronteira entre a pintura, o desenho e a fotografia, as imagens de Claudia Melli são geradas a partir de um constante estado de atenção às pequenas mudanças e sutilezas dos movimentos cíclicos da natureza. Como contraponto para a brutalidade do mundo, a artista cria obras marcadas pela pausa e o silêncio. Te encontro amanhã na mesma hora fala dos ciclos de vida-morte-vida constantes, que, aqui, brotam a cada pôr do sol. Em tempos de tantas rupturas e barreiras, o micélio representa a ponte que conecta e nutre a vida, podendo ser entendido não como uma coisa, mas como um processo perfeito e constante que nos convida a superar nossa individualidade.

Craca

São Paulo, Brasil, 1975. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A instalação sonora interativa Ouvir simula o processo de aprendizado de uma comunidade e a criação de um léxico a partir de trocas meméticas de informações entre seus indivíduos e/ou com o público visitante. A obra é formada por quase 200 criaturas emissoras de melodias, dispostas fisicamente em uma rede que invade e se apropria do espaço arquitetônico à semelhança das raízes de uma planta, uma ramificação de veias ou mesmo uma rede neural. Esses indivíduos ouvem, aprendem e reproduzem léxicos melódicos por meio de um sistema de machine learning e reconhecimento de padrões criados mediante o uso de inteligência artificial. O público é convidado a intervir e colaborar com o processo de aprendizado, conversando, cantando e assobiando junto às cócleas – objetos simbólicos, suspensos no espaço, gerados a partir de modelos tridimensionais de ouvidos internos humanos. A obra acumulará aprendizado ao longo do período expositivo, e o que se ouvirá nessa ocupação acústica será o resultado desse processo.

Cássio Vasconcellos

São Paulo, Brasil, 1965. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Desde 2008, Vasconcellos desenvolve a série Coletivos, na qual reúne montagens feitas a partir de fotografias aéreas obtidas por ele. Over é um desdobramento dessa série. Tecendo comentários sobre a sociedade de consumo ao tornar visível o impacto da ação humana no mundo, o trabalho reúne imagens provenientes de diversos ferros-velhos do Brasil e do exterior. O artista recorta cada elemento, reunindo-os em uma grande composição. Emerge, então, uma imagem que habita o espaço entre a ficção e a realidade, colocando em discussão o papel documental do meio fotográfico. Over apresenta um cenário que, embora pareça apontar para um futuro distópico, reúne fragmentos do agora. A exagerada aglomeração denuncia como a ideia de descarte pode ser enganadora, tendo em vista que os objetos não deixam de existir quando os jogamos fora, mas passam a habitar outros lugares.

Denise Milan

São Paulo, Brasil, 1954. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A produção de Denise Milan tem na pedra o seu eixo criativo. Sua poética investiga por diferentes caminhos as histórias que o mineral é capaz de contar – não apenas a sua própria, mas a história da Terra, do nosso passado e do universo. Em TrincAr, a artista traz para o presente a história de 130 milhões de anos atrás, quando a movimentação das placas tectônicas provocou uma intensa atividade vulcânica que resultou no surgimento das extremidades dos continentes sul-americano e africano. No território do Rio Grande do Sul, naquele período, em meio à efervescência do magma, surgem ametistas, pedras que se formam em bolhas de ar. A instalação é composta por sete ametistas, cujo peso varia entre 14,6kg e 150kg, gipsitas e cristais, propondo uma imersão pela qual o visitante consiga ativar na sua memória a história de trauma, fuga e superação que se deu há tantos anos neste lugar da Terra.

Dora Smék

Campinas, Brasil, 1987. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Corpo, movimento, contração, retenção e fluxo são elementos presentes no trabalho de Dora Smék, que desenvolve sua poética em linguagens como escultura, instalação, fotografia, vídeo e performance. Apresentando situações de adaptação do corpo em situações de tensão, a artista explora processos inconscientes que atravessam o corpo em busca de estratégias de existência, em um constante processo de ressignificação de si mesma. Nas obras Barra e Colo, Smék utiliza um molde de estrutura pélvica feminina, cujo ângulo de abertura é maior do que a da estrutura masculina. A pélvis feminina se amplia para a passagem da vida e se comprime pela pressão social. Já em Canibais, a artista apresenta um corpo constituído por sua própria base, composto pela cópia de um fêmur que se equilibra verticalmente sobre um cubo de ferro e é quase devorado por um tubo retorcido.

Edson Pavoni

São Paulo, Brasil, 1984. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Pensar na presença da tecnologia em nossa sociedade é central na poética de Edson Pavoni. Partindo de uma interrogação sem resposta – a tecnologia irá nos aproximar ou separar? –, o artista propõe novos imaginários para a ideia de conexão. Essa versão do projeto Templo Orbital se desdobra a partir de perguntas como: e se o céu pudesse ser um lugar para todos? E se pudéssemos imaginar um paraíso alternativo no qual todos os seres sencientes pudessem ter um espaço? O artista convida os visitantes a participarem da obra enviando para o céu, por meio de um site, o nome de alguém já falecido. Pavoni reflete sobre o destino após a morte e, ao mesmo tempo, sobre a exploração e o acesso às tecnologias espaciais. A obra completa é composta pelo lançamento de um satélite capaz de armazenar bilhões de nomes e uma escultura pública que é também antena e se comunica com o satélite. O satélite será enviado ao espaço pelo foguete Falcon9, da SpaceX, em fevereiro de 2023.

Elias Maroso

Sarandi, Brasil, 1985. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil. Por meio de fotografias de paisagem, estudos em biofísica computacional e engenhos sonoros eletromagnéticos, Elias Maroso desenvolve um processo no qual destaca fenômenos que vão além do olhar humano. Criptocromo (A Cor Escondida) é uma instalação sobre a visão magnética de aves migratórias presentes na cidade de Porto Alegre. Para dar título ao trabalho (título que inclui seu significado em grego), o artista escolheu o nome dado a uma proteína da constituição genética de organismos sensíveis ao magnetismo. Estudos em biologia quântica indicam que esse componente celular é encontrado na retina de alguns pássaros, aos quais confere um aguçado senso de orientação terrestre. Diante dessas evidências, é possível demonstrar que algumas espécies percebem a atividade dos polos magnéticos da Terra a partir de alterações tonais avistadas no horizonte. Propondo a criação de um horizonte perceptivo que ultrapassa a visão antropocêntrica, por meio de imagens-dispositivos, Elias Maroso busca representar a maneira como a “bússola visual” de aves migratórias percebe o geomagnetismo da paisagem local. Um som ambiente que remete ao canto dos pássaros juruviara-boreal é formado pelas vibrações eletromagnéticas geradas por circuitos aderidos à superfície dessas imagens-dispositivos. Essa espécie de aves migra à região Sul do Brasil, precisamente durante o período da 13ª Bienal do Mercosul.

Esfincter

Luis Enrique Zela-Koort Virginia, Estados Unidos, 1994. Vive e trabalha em Lima, Peru. Genietta Varsi Lima, Peru, 1991. Vive e trabalha entre Helsinki, Finlândia, e São Paulo, Brasil. O duo Esfincter busca contribuir para a criação de novos mundos possíveis, avançando e reinventando sensibilidades pré-modernas que rejeitam os limites ficcionais da modernidade. Sua obra adota uma cosmovisão circular sobre a vida e a morte, bem como uma subjetividade permeável em que a atividade humana é simplesmente mais um devir. Com Órgano primo: condensador de cuerpos, uma máquina-órgão interativa, os artistas visam criar rituais contemporâneos que atualizem a circularidade das cosmovisões pré-modernas. A instalação, que lembra um esfíncter digestivo, coleta composto orgânico e destila a putrefação em sopa primordial – o líquido hipotético onde a vida surgiu pela primeira vez –, adaptando, em uma configuração escultural e automatizada, o experimento de Miller-Urey que abriu as portas para a crença de que a matéria precursora da vida poderia ter se formado espontaneamente. A obra é um ritual de construção de pontes epistêmicas, um convite aos espectadores a desfazerem as fronteiras entre o eu e o mundo.

Estela Sokol

São Paulo, Brasil, 1979. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A artista apresenta duas instalações que interagem com as variações de luminosidade do ambiente. Feitas com tecido tingido com pigmento fotoluminoso, as esculturas mudam de cor conforme a variação da luz do entorno, desvelando novas cores e tons em um jogo de luz e sombra. O efeito fotoluminescente do tecido se dá pela captação da luz natural e/ou artificial e torna-se aparente em ambientes com baixa luminosidade, quando os fótons, já carregados, passam a emitir luz. Prólogo e Vitrôzinho propõem, assim, um diálogo com as entradas de luz do prédio onde estão instaladas. Enquanto a primeira obra se transforma ao longo do dia, a segunda requisita a intervenção dos mediadores para ativá-la manipulando a cortina que bloqueia a única entrada de luz na sala.

Felippe Moraes

Rio de Janeiro, Brasil, 1988. Vive e trabalha entre São Paulo e Rio de Janeiro, Brasil. A ideia de tornar visíveis fenômenos antes imperceptíveis aos sentidos está no centro da produção poética de Felippe Moraes. Com Movimento Pendular #1, o artista recria em grande escala o experimento científico do pêndulo de areia. Ao ser colocado em movimento, o pêndulo deixa um rastro no chão, descrevendo elipses e espirais que nunca se repetem. Essas linhas são conhecidas, na matemática, como figuras de Lissajous, e assemelham-se aos desenhos das galáxias. A obra de Moraes aproxima-se também do apontamento descrito n’A Tábua de Esmeralda, do alquimista egípcio Hermes Trismegisto: “O que está embaixo é como o que está no alto”. O trabalho, portanto, oscila entre a ciência e o ocultismo, a apreciação de um fenômeno físico e a contemplação meditativa, o transcendente e o imanente. O desenho resultante assemelha-se às mandalas efêmeras construídas com areia por monges tibetanos, ou pontos riscados com pemba por entidades de Umbanda, Candomblé e outras religiões de matriz africana. A delicadeza complexa dos desenhos se desfaz com as correntes de ar e o passar do tempo, em um processo entrópico que não permite que nada esteja estanque.

Fernando Sicco

Montevidéu, Uruguai, 1961. Vive e trabalha em Montevidéu, Uruguai. Como podemos nos posicionar contra as afirmações e opiniões que circulam na Internet a respeito dos direitos? O que acontece quando a enunciação de direitos para uma alteridade genérica não é filtrada pela empatia, razão ou ética? O projeto D.U.D.O Declaración Universal de Derechos de Otres, Otras, Otros é uma investigação sobre a impostura subjetiva em que se sustenta todo discurso que atribui direitos, em uma tentativa sempre fracassada de gerir a diversidade e o conflito humanos. A videoinstalação de Fernando Sicco apresenta mais de 80 avatares animados, criados por apropriação artística de um aplicativo para fins educacionais. Esses avatares reproduzem mais de 600 frases retiradas do Google e que concedem garantias à terceira pessoa do plural como sujeito omitido: "têm direito". A obra propõe aos visitantes uma experiência que pode ser perturbadora, engraçada ou angustiante, obrigando-nos a refletir sobre como nos inserimos no discurso coletivo, ora como enunciadores ativos, ora como sujeitos passivos enunciados por outros, em meio a narrativas e territórios pouco claros, diante de tudo o que os avatares nos devolvem como espelho. D.U.D.O. envolve o espectador com a relatividade da informação em abundância e os riscos de elevar a opinião à categoria de principal reguladora da convivência.

Franco Callegari

Rosário, Argentina, 1996. Vive e trabalha em Rosário, Argentina. O artista propõe uma instalação site-specific com formigas carpinteiras, espécie cujo sistema de organização e comunicação, altamente complexo, lhe permite percorrer milhares de quilômetros e superar todo tipo de obstáculos em busca de condições adequadas para construir seu ninho e copular. A obra Manifestación surge de uma experiência onírica ocorrida durante o confinamento da pandemia na qual as formigas eram as mensageiras do mundo exterior. Na instalação, uma colônia de formigas se espalha pelos espaços expositivos. Traçando um paralelo com o cenário pandêmico, as formigas nos demonstram, com sua incansável marcha, que é possível superar qualquer adversidade e chegar aos lugares mais inusitados, inclusive o inconsciente.

Fyodor Pavlov-Andreevich com Olga Treivas

Fyodor Pavlov-Andreevich Moscou, Rússia, 1976. Vive e trabalha entre Londres, Inglaterra, e São Paulo, Brasil. Olga Treivas Moscou, Rússia, 1983. Vive e trabalha entre Suzdal, Rússia, e São Paulo, Brasil. Nem sempre o entretenimento é aquilo que esperamos. A ilusão do prazer pode colapsar de repente, transformando-o em esforço cansativo. Essa premissa é o ponto de partida para Antifurniture, projeto desenvolvido por Fyodor Pavlov-Andreevich em parceria com a arquiteta Olga Treivas. A obra consiste em um parque temático cujas atrações causam estranhamento à fisicalidade humana ou tornam essas circunstâncias totalmente desconfortáveis. O espaço reúne objetos-esculturas que transformam o corpo em corpo de resistência, em corpo político ou corpo de guerra – aqui há uma alusão direta à situação do país dos artistas, que travou uma guerra contra a Ucrânia em 2022. A delicada relação entre um elemento óbvio de entretenimento e a tristeza da fragilidade e transitoriedade do corpo humano leva os visitantes que vivenciam Antifurniture à uma nova compreensão de sua própria fisicalidade e dos elos que ligam o corpo rotineiro ao corpo de declaração.

Gabriel de la Mora

Cidade do México, México, 1968. Vive e trabalha na Cidade do México, México. A poética de Gabriel de la Mora consiste em investigações exaustivas sobre as possibilidades físicas e conceituais dos materiais. Para a construção da obra 29,644 foram utilizadas 383 esferas de vidro soprado, dentro das quais foram inseridos 14.855 fragmentos convexos e 14.789 fragmentos côncavos. O resultado é uma obra que torna indistintas as fronteiras entre desenho, pintura e escultura. Cria-se uma pintura que não é pintura, um espelho estranho, que forma uma dislexia visual. O espectador depara-se com uma sequência de imagens repetidas com algumas diferenças, uma superfície com mosaicos irregulares, mas que mantém um caráter monocromático. Repetição e diferença, diferença e repetição: ainda que a imagem seja a mesma, cada fragmento cria uma imagem única e irreplicável.

Gabriela Mureb

Niterói, Brasil, 1985. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. A obra Sem título (trabalho), de Gabriela Mureb, coloca em evidência a relação homem versus máquina. A artista apresenta uma máquina em funcionamento contínuo cuja ação consiste na permanente manipulação de uma massa viscosa feita de melado de cana de açúcar. A obra parte da observação de máquinas utilizadas industrialmente para automatizar o processo de “puxar” bala, como é chamado o ato artesanal de esticar e dobrar repetidamente a massa de açúcar sobre si mesma, até ela endurecer e atingir o ponto de corte. Se em processos fabris essas máquinas funcionam por períodos curtos, já que rapidamente a massa cristaliza, em Sem Título (trabalho), a máquina apenas trabalha, sem pausas. A massa, colocada diariamente na máquina, é preparada manualmente, reforçando a presença da força de trabalho humana que é necessária para que o ato maquinal se sustente. Por meio de sua produção, Mureb nos coloca diante do contraste entre a força mecânica da máquina e a viscosidade do material, entre a disparidade das horas de trabalho homem-máquina e a fragilidade da massa manipulada, que nunca cristaliza, um gesto escultórico que não se conclui.

Gustavo Prado

Com a obra O Morador, Gustavo Prado propõe uma reflexão sobre como as cidades estão organizadas e devem ser alteradas para atender melhor às necessidades de seus habitantes. Composta por 27 portas de correr de alumínio, com adesivos vinílicos espelhados, a instalação articula uma experiência única para o corpo e para a percepção dos visitantes, bem como para a paisagem urbana na qual está instalada. Exercício de negociação entre o espaço e suas possibilidades, a obra cria uma espécie de labirinto controlado cujas portas podem ou não estar trancadas segundo uma programação predeterminada pelo artista. Ao serem constantemente realinhadas, elas são postas frente à frente, criando imagens infinitas que ampliam a percepção de distância e profundidade. O Morador cria um espaço em constante transformação, feito do que é material e do que é imaterial, de corpos e imagens, de trechos da cidade e seções que não é possível ver a não ser por frestas.

Guto Nóbrega

Cabo Frio, Brasil, 1965. Vive e trabalha em Niterói, Brasil. A relação entre arte, ciência e tecnologia está na base da produção de Guto Nóbrega. A obra Natureza Híbrida resulta do acoplamento entre organismos naturais e artificiais, mais especificamente, uma planta submersa em um aquário e um dispositivo mecatrônico, sonoro e luminoso. O artista busca desenvolver possibilidades de conexões entre sistemas vegetais e tecnológicos, gerando experiências sensíveis, imersivas e especulativas sobre a existência em diálogo com a natureza e sua organicidade. O resultado é uma instalação híbrida, inspirada na combinação de formas e luzes de criaturas abissais, que reflete o diálogo e a relação entre as diferentes linguagens mescladas.

Héctor Zamora

Cidade do México, México, 1974. Vive e trabalha na Cidade do México, México. A obra de Héctor Zamora nasce como uma resposta direta às características dos prédios que compõem a Casa de Cultura Mario Quintana e que delimitam a Travessa dos Cataventos. A distância que existe entre as duas fachadas cria uma singularidade espacial. As varandas propõem um jogo de aproximação entre os dois lados, lembrando dos varais e das roupas penduradas nas ruas e travessas de pedestres de muitas cidades ao redor do mundo, sobretudo em bairros populares. Esse tipo de varal quebra com as noções de privacidade ao exibir, de maneira involuntária porém consciente, as roupas de quem ali habita, colocando também questões acerca do anonimato de quem pendura sua intimidade. Zamora apresenta um conjunto de 21 varais que recebe lençóis coloridos pensados pelo artista como pinturas tridimensionais. Os tecidos pendurados criam jogos cromáticos com três tons. A obra de Zamora busca proporcionar uma experiência única aos passantes da Travessa dos Cataventos. A obra propõe um momento de alegria colorida através do qual faz um comentário político sutil ao opor o momento histórico e levar ao público uma vivência emocional através do jogo da luz, da cor e do vento.

Iván Cáceres

La Paz, Bolívia, 1976. Vive e trabalha entre La Paz e El Alto, Bolívia. A obra de Iván Cáceres incorpora elementos da cultura andina para criar uma instalação sonora interativa. O artista cria uma máquina, um objeto híbrido que convida os visitantes a assistirem, escutarem e explorarem uma codificação de linguagens perdidas através da energia transmitida pelas rendas têxteis que compõem a obra e o próprio corpo. O trabalho parte do chakana – figura geométrica que é um dos símbolos mais importantes dessa cultura, utilizada como ordenadora de conceitos matemáticos, religiosos, filosóficos e sociais das 36 nações reconhecidas na Bolívia e dos povos indígenas da América Latina – juntamente com o Pututu, um instrumento de vento. A instalação deve ser entendida como uma zona de transição entre o real e o onírico, um portal de acesso ao mundo dos sonhos e ao laborioso ofício de construir sua topologia, que o artista vem mapeando com minuciosos desenhos ao longo dos anos, registros de deambulações por um universo onírico que ele busca localizar e compreender.

Janaina Mello Landini

São Gotardo, Brasil, 1974. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A instalação de Janaina Mello Landini promove a ativação de uma experiência afetiva pela via da conexão indivíduo-meio. A artista convida o visitante a passear por uma sala com uma entrada e uma saída claramente visíveis. O interior, contudo, é entrecortado por uma sequência de “grupos de força”, estruturas conceitualmente construídas por conjuntos de elásticos que se repetem e se somam no espaço, criando uma aparência caótica. À medida que o corpo avança nesse emaranhado, os conjuntos elásticos se deformam e fazem vibrar o espaço, criando novas camadas de experiência. A sonoridade que surge a partir do movimento dos elásticos é um dos pontos fundamentais do trabalho. Trata-se de uma composição harmônica escrita pelo músico Paulo Santos. A música foi decomposta em 16 canais distribuídos pela instalação, que podem ser ativados conforme o corpo vai atravessando o espaço. Em contraponto à construção dos elásticos de acordo com uma ordenação quase invisível, o rastro sonoro do corpo pode ser conduzido do estado mais harmônico ao estado cacofônico, mas sempre randômico.

Jaume Plensa

Barcelona, Espanha, 1955. Reside em Barcelona, Espanha. Plensa expõe regularmente seu trabalho em galerias e museus na Europa, Estados Unidos e Ásia. As exposições marcantes em sua carreira incluem a exposição organizada na Fundació Joan Miró em Barcelona em 1996, que viajou para a Galerie nationale du Jeu de Paume em Paris e a Malmö Konsthall em Malmö (Suécia) no ano seguinte. Na Alemanha, vários museus realizaram exposições de seu trabalho. Estes incluem Love Sounds na Kestner Gesellschaft em Hannover em 1999, The Secret Heart, que foi exibido em três museus na cidade de Augsburg em 2014 e Die Innere Sight no Max Ernst Museum, em Brühl em 2016. Durante 2015 e 2016 o A exposição Human Landscape percorreu vários museus norte-americanos: Cheekwood Estate and Gardens e The Frist Center for Visual Arts em Nashville, TN, o Tampa Museum of Art em Tampa, FL e o Toledo Museum of Art em Toledo, OH. Suas últimas exposições museológicas foram Invisíveis no Palacio de Cristal – Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía em Madrid, e no MACBA em Barcelona, que viajou para o Museu de Arte Moderna de Moscou em Moscou, Rússia, e no Museu Beelden aan Zee em Haia, Holanda (2019). Uma parte muito significativa do trabalho de Plensa está no campo da escultura no espaço público. Instalado em várias cidades da Espanha, França, Japão, Inglaterra, Coréia, Alemanha, Canadá, EUA, etc. A Fonte da Coroa, que foi inaugurada no Millennium Park de Chicago, em 2004, é um dos maiores projetos do Plensa e um dos mais brilhantes. A obra rendeu muitas encomendas, somando-se à lista de obras de Jaume Plensa em espaços públicos, até as mais recentes, Julia (2018) em Madrid, Voices (2018) em 30 Hudson Yards, Nova Iorque, EUA e Dreaming (2017) no Richmond Adelaide Centre de Toronto, instalado em 2020.

José Bento

Salvador, Brasil, 1962. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Minas Gerais. A falta de oxigênio, que figurou em manchetes aterradoras entre 2020 e 2021, ganha diferentes significados no trabalho de José Bento. Sua instalação é composta por objetos que representam, em tamanho real, cilindros de oxigênio hospitalares. As esculturas de madeira são realizadas por meio da técnica manual de desbaste, lixamento e polimento. O artista cria uma floresta de cilindros, utilizando madeiras variadas que representam os quatro principais biomas brasileiros: o Atlântico, o Amazônico, o Cerrado e a Caatinga. Há também madeiras de outros países, sinalizando que a falta de ar é global e tão ampla quanto a diversidade de leituras da obra Ar.

Juliana Góngora Rojas

Bogotá, Colômbia, 1988. Vive e trabalha em Bogotá, Colômbia. A etimologia latina de recordar nos remete ao significado de “passar pelo coração”. Comparável ao acordar ou ao despertar de um sonho, Durmiendo cuando las plantas despiertan é uma instalação que convida o visitante a relembrar o que é essencial. O projeto nasceu em 2021, quando a artista desenvolvia outra obra e quis tecer com arruda, uma planta medicinal que promove a circulação sanguínea e que, nas antigas tradições da Colômbia, é muito valorizada por seu caráter regenerador e purificador. O tecer com arruda tornou-se metáfora da tentativa de limpar o sangue de um autoritarismo extremo que há anos se aloja na linhagem de sua família. Durmiendo cuando las plantas despiertan é composta por várias esteiras tecidas de arruda, folhas de bananeira, farinha de mandioca, macela, terra e outras plantas medicinais típicas do Brasil. No ato de tecer, a fibra é penteada, relembrando e ativando a memória de quando penteamos os cabelos em um ato de cuidado e carinho, um momento propício para iluminar os pensamentos e dar lugar ao que merece espaço.

Julius von Bismarck

Breisach am Rhein, Alemanha, 1983. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha. “Irma virá com severidade”, alertava uma manchete de setembro de 2017, pouco antes de o furacão, de categoria cinco, varrer o Caribe e destruir a Flórida. Sua chegada é o tema do filme de Julius von Bismarck, gravado em Nápoles, Flórida, em meio a ventanias e inundações. Em uma tentativa de entender a essência de um furacão para além do espetáculo midiático, as imagens em preto e branco são drasticamente reduzidas, absorvendo chuva e detritos de ruas vazias, carros submersos e casas em desordem. Uma trilha sonora reunida a partir de reportagens é desacelerada para acompanhar o ritmo da imagem em movimento, tornando-se ininteligível. A obra de Bismarck joga com a ambiguidade entre o prazer e a perversidade envolvidos no ato de ver imagens catastróficas ao mesmo tempo em que busca revelar a força devastadora da natureza.

Karola Braga

São Caetano do Sul, Brasil, 1988. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. As conexões entre cheiros, palavras e memória são centrais na pesquisa poética de Karola Braga. O projeto Em suas mãos surpreende o visitante em um espaço inusitado: os banheiros dos espaços expositivos. Saboneteiras confeccionadas em latão são acompanhadas por sabonetes líquidos com diferentes aromas, que variam desde os mais familiares até os mais complexos, convidando o visitante a revisitar ou criar memórias. Já em Lágrimas, terra e crisântemo, um lençol é embebido em cheiro de luto – formado pelos aromas que dão título à obra – e, preso em um varal, libera seu aroma quando movimentado pelo vento. A artista inverte a ideia de assepsia relacionada a um lençol limpo, branco, secando no varal, provocando o visitante com o cheiro que dele se desprende.

Leandra Espírito Santo

Volta Redonda, Brasil, 1983. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Em sua prática, Leandra Espírito Santo vem abordando o tema da relação entre corpo e tecnologia e a fragmentação da experiência do corpo em ambientes virtuais. Nesta obra, espécie de linha de montagem proposta pela artista, é como se víssemos um estranho rebobinar, fazendo com que partes decepadas se reconectem, em uma metafísica canhestra, a uma forma primordial. São moldes de corpos de matrizes diversas que correm em trilhos frágeis na direção da unificação, talvez ironicamente renascentista, por meio da visão monocular de uma câmera que, por breves instantes, faz das partes secionadas um todo, fugazmente uno, visível em uma televisão anacrônica. Um ser que, então, se despedaça, levando a outra perspectiva: a da fragmentação. Em dimensões de transe xamânico ou com o uso de aditivos alucinógenos, é possível perceber que o corpo uno é apenas uma das configurações que o nosso cérebro constrói de nós mesmos. De certa forma, Re-member é a lembrança desse corpo que se unifica por desígnio de uma vontade misteriosa para si mesmo.

Leandro Lima

São Paulo, Brasil, 1976. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Fazendo uso de diferentes tecnologias, das mais avançadas às mais simples, a produção de Leandro Lima se debruça sobre diferentes experiências do observador com o espaço, a cidade, as instituições, o contexto urbano e o cotidiano. O artista cria sistemas complexos que imitam seus equivalentes reais e funcionam de forma muito próxima a eles. É o caso de Travessia, obra formada por uma longa peça de madeira, com uma estrutura vertebral conectada a uma quilha central, composta por 16 braços articulados, remetendo a uma embarcação. Os movimentos da peça simulam o exercício de remada, em diferentes padrões, mas mantendo um sincronismo constante. O conjunto soma esforços criando uma unidade de força. É possível ler a obra, a partir do contexto atual, como um barco para ir e vir, ou para fugir. Os braços, ou remos, que são também feixes de luz, iluminam o caminho para uma possível travessia, uma fuga coletiva em busca de novos caminhos e novos territórios.

Lucas Dupin

Belo Horizonte, Brasil, 1985. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil. O projeto civilizatório baseado na exploração dos recursos naturais e na consequente desvinculação do ser humano do seu entorno conduz a episódios catastróficos e traumáticos cada vez mais frequentes. Com esse cenário em mente, Lucas Dupin constrói a videoinstalação Da memória vegetal. O artista convida o visitante a circular entre estantes de aço inclinadas, repletas de livros que parecem prestes a cair e cobertas por terra, de onde, aos poucos, vão brotando diferentes espécies de organismos. Plantas de grande porte equilibram as estantes nas quais estão acoplados televisores. No vídeo, imagens de eventos traumáticos recentes se sobrepõem a imagens filmadas dentro de florestas e lugares nos quais a natureza resiste sem a interferência dos seres humanos. O artista questiona: tudo está prestes a cair ou resistiremos apesar da catástrofe em curso?

Luisa Mota

Porto, Portugal, 1984. Vive e trabalha em Porto, Portugal. As figuras presentes em Anciãs (5 old ladyes) transitam pela obra de Luisa Mota desde 2009 e representam personagens ancestrais que surgem em um contexto de ritual, benzendo o personagem central, Homem-rapaz. Recorrentes no universo artístico de Mota, essas personagens remetem a temas como mortalidade, sabedoria, ciclos e legados ancestrais. A artista investiga questões de identidade, memória e da experiência corpórea. As figuras escultóricas de tamanho real surgem de um ambiente onírico e transcendental à experiência humana como forma de enfatizar que existem outros planos além da vida, um antes e um depois. A integridade do passado, a longevidade, os ciclos da vida e da morte (e da reencarnação) aparecem como caminhos para reflexões.

Luzia Simons

Quixadá, Brasil, 1953. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha. Em guerras e pandemias, rituais de luto são negados à maioria das pessoas. Milhões de pessoas morreram na pandemia da covid-19 sem que cerimônias de adeus pudessem ser realizadas. A obra de Luzia Simons é uma alusão aos símbolos florais tão utilizados nos rituais de boas-vindas e despedidas. Os tecidos, por razões históricas e culturais, correspondem a vestes em que se envolvem os corpos dos mortos. O mais pesado, o linho, remete à perseverança, e o mais leve, a seda, assemelha-se a um gesto da preciosidade da vida fugaz. As imagens impressas de flores escaneadas convertem o trabalho da artista em um envelope, assim devolvido como reconhecimento, apreço e recordação àqueles que, traumaticamente, desapareceram.

Lygia Clark

Belo Horizonte, Brasil, 1920 - Rio de Janeiro, Brasil, 1988. Um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira, Lygia Clark é conhecida pelo público mais amplo por suas pinturas e esculturas. No final dos anos 1960, a atuação da artista foi marcada por inúmeras experimentações que envolviam os sentidos. A partir dessa prática, Clark desenvolveu, ao longo dos anos 1970, um conjunto de objetos relacionais, utilizados por ela em sessões de psicoterapia. A essa sistemática desenvolvida dentro de um contexto terapêutico, Clark nomeou como "A Estruturação do self". Na 13ª Bienal do Mercosul é criado um ambiente que se assemelha ao espaço no qual a artista realizava seus atendimentos, trazendo-se ao público trechos de registros de seus Casos Clínicos, nunca antes apresentados.

Lídia Lisboa

São Paulo, Brasil, 1970. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A obra Pé de meia é um desdobramento de um trabalho anterior de Lídia Lisboa, intitulado Cicatrizes, no qual uma mulher escreve sua história em um retalho e depois o amarra, o que faz com que ela se cure de miomas e de tristezas acumuladas na sua trajetória. Em Pé de meia, os arranjos de meias-calças, recheadas de meias usadas, também ganham nós e amarrações, mas revelam a necessidade de andar e viajar. Em torno da massa que forma a obra, percebe-se a organicidade das vísceras, pelas quais passam situações da vida. O trabalho lida com processos de cura pela caminhada e o deslocamento.

Marilá Dardot

Belo Horizonte, Brasil, 1973. Vive e trabalha na Cidade do México, México. A instalação Zero Tolerance Silver Clouds conecta a política estadunidense de imigração “Tolerância Zero” à instalação Silver Clouds (1966), de Andy Warhol. Em 2018, imagens de um centro de detenção no Texas chocaram o público ao mostrar aproximadamente 3 mil crianças presas e separadas de seus pais. Em um espaço gradeado, que Dardot interpreta como uma gaiola, as crianças usavam cobertores prateados feitos com o mesmo material utilizado por Warhol nos balões de sua obra. Evocando um ícone da arte contemporânea, Marilá Dardot confronta os ideais do “sonho americano” com as reais políticas migratórias do país, que impedem os sonhos de muitas pessoas.

Marina Abramović

Belgrado, Sérvia, 1946. Vive e trabalha em Hudson, Nova York. Marina Abramović é um dos grandes nomes internacionais da performance. Ao longo de sua trajetória, a artista explora o corpo tanto como tema quanto como meio, levando seu corpo aos limites físicos e mentais. Em suas obras, Abramović supera situações que envolvem dor, exaustão e perigo, em busca de uma transformação emocional e espiritual. Na videoperformance Seven Deaths, a artista sofre sete mortes prematuras na tela, tendo como trilha sonora sete árias interpretadas pela soprano Maria Callas. O interesse e encantamento de Abramović por Callas é antigo. O encontro com as obras da cantora lírica acabou sendo um momento culturalmente formador e transformador para a artista, que identifica a sua própria história de vida, com amores perdidos e experiências de quase morte, com a trajetória de Callas. Em Seven Deaths, Abramović encena sete mortes, embalada pela voz da soprano interpretando árias de óperas tão famosas quanto Madame Butterfly, de Puccini, Carmen, de Bizet, e Norma, de Bellini.

Martín Soto Climent

Cidade do México, México, 1977. Vive e trabalha em Tepoztlán, México. Para Martín Soto Climent, a existência é um ciclo de energias transformadoras em que tudo surge de dualidades: fragilidade e força; masculinidade e feminilidade; sonho e realidade. Em sua produção artística, Climent busca a unidade e o equilíbrio, trabalhando com temas que emergem da intimidade e da condição humana mais profunda, rompendo aspectos do que podemos reconhecer como divindade. Em El luminoso revoloteo de la mariposa blanca, o artista busca descrever a diversidade, utilizando cores e formatos que revelam diferentes facetas de sua obra: as sensações corporais de energia e movimento que aparecem nas meias, a visualidade das cores que emergem das dobras e uma força suspensa como gesto de tensão.

Mazenett Quiroga

Lina Mazenett & David Quiroga Bogotá, Colômbia 2014. Vivem e trabalham entre Berlim, Alemanha, e Bogotá, Colômbia. Forças invisíveis são acolhidas neste trabalho de Mazenett Quiroga para criar uma experiência de inspirar, sentir, escutar e impregnar-se de substâncias que alteram estados de consciência. Healing Forest é composta por diferentes tecnologias digitais e biológicas. Por um lado, a iluminação em LED azul, muito presente nas telas dos aparelhos eletrônicos e que suprime a síntese de melatonina, o hormônio do sono, afetando os ciclos circadianos; por outro, espalhada na instalação por meio de umidificadores, a tintura de trombeteira, planta nativa das regiões tropicais da América do Sul que exala perfume à noite e é muito usada por culturas indígenas do continente em preparações médicas e cerimônias religiosas e espirituais. Segundo a pesquisa dos artistas, a planta permite a comunicação com o inconsciente e ajuda a entrar em contato com tudo que está oculto. Além de ser uma experiência mística, a instalação de Mazenett Quiroga funciona como uma terapia e tratamento de bem-estar que visa esconjurar, exorcizar e curar traumas deixados pela pandemia, especialmente a coronasônia – insônia causada pelo stress dos tempos de isolamento e considerada uma segunda pandemia que afetou não apenas nossas vidas, mas também nosso mundo de sono e sonhos.

Nati Canto

São Paulo, Brasil, 1982. Vive e trabalha em São Paulo. Nati Canto trabalha com materiais diversos, desde a combinação de equipamentos digitais e analógicos, até conhecimentos ancestrais e tecnologias de ponta para explorar como as imagens assumem diferentes significados dependendo dos contextos sociais, históricos e geográficos que as moldam. Sua prática artística mais recente concentra-se na interseção da sua formação em Gastronomia, sua experiência em artes visuais e seus estudos em biomateriais para criar um novo corpo de trabalho que não seja excessivamente agressivo para o meio ambiente. A obra Lalangue, Tropeços e Urucum consiste em um manto de gelatina de urucum e pães de massa morta. Lalangue é uma onomatopeia para designar o que ainda não conseguimos falar. Representa o balbucio, a palavra que ainda não foi processada, que sai tropeçada, como gosma.

Nico Vascellari

Vittorio Veneto, Itália, 1976. Vive e trabalha em Roma, Itália. Em sua prática, Nico Vascellari faz pontes entre mídias diversas, como performance, escultura e videoarte. Suas obras investigam principalmente a relação entre a natureza e o homem a partir de uma abordagem que visa a atingir e enredar-se com camadas sociais híbridas, estimulando o diálogo entre arte e público. O vídeo Visita interiora terrae foi gravado em 3 de agosto de 2020 na floresta de Cansiglio, no norte da Itália. A obra apresenta o artista em um sobrevoo que mistura sonho e realidade. Anestesiado por um médico, o artista, inconsciente, é amarrado a uma maca pendurada de um helicóptero que sobrevoa florestas e montanhas.

Nico Vascellari

Vittorio Veneto, Itália, 1976. Vive e trabalha em Roma, Itália. Em sua prática, Nico Vascellari faz pontes entre mídias diversas, como performance, escultura e videoarte. Suas obras investigam principalmente a relação entre a natureza e o homem a partir de uma abordagem que visa a atingir e enredar-se com camadas sociais híbridas, estimulando o diálogo entre arte e público. O vídeo Visita interiora terrae foi gravado em 3 de agosto de 2020 na floresta de Cansiglio, no norte da Itália. A obra apresenta o artista em um sobrevoo que mistura sonho e realidade. Anestesiado por um médico, o artista, inconsciente, é amarrado a uma maca pendurada de um helicóptero que sobrevoa florestas e montanhas.

Nídia Aranha

Rio de Janeiro, Brasil, 1992. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A prática artística de Nídia Aranha passa pela construção de narrativas visuais subversivas, compostas por elementos ficcionais e documentais, que tangenciam relações de desobediência de gênero. Sua produção se materializa em diferentes suportes, como dispositivos de laboratório, próteses e instrumentais cirúrgicos, além de práticas de biohacking, tendo a performatividade e seus registros – pintura, fotografia, manipulação digital e videografia – como afirmação de metodologias científicas experimentais. Em Ordenha 002, a artista explora as possibilidades reais e simbólicas de um corpo trans produzir leite por meio de uma dieta hormonal, utilizando-se da tecnologia para tensionar os papéis de gênero. A obra cria um paralelo entre a exploração das vacas leiteiras pela bovinocultura e a do corpo feminino entendido como pertencente a essa mesma cadeia extrativista.

Otavio Fabro

Com sua produção, Otavio Fabro desenvolve uma maneira alternativa de entender, relacionar-se e olhar a cidade contemporânea em suas relações sociais. Partindo do contexto social e urbano do Muro da Mauá, a proposta do artista surge no pensar as relações humanas com o mundo natural, para então tensionar as próprias relações humanas. Da invisibilidade potencializada nas diferenças sociais, ou nas trocas culturais e conforto às intempéries, a obra reflete o projeto de cidade em um hibridismo contemporâneo de não pertencimento. Do olhar as estrelas e constelações no céu, surge o mapeamento ao processo de pintura com aerossol de fuligem de combustão. As nuances criadas pela sobreposição das camadas de fuligem buscam uma visualidade referenciada nos fenômenos físicos ondulatórios, somado aos indícios de fogueiras urbanas de moradores em situação de rua. As cores observadas no trabalho surgem tanto da luz do sol incidida e refletida, quanto através da tinta biológica criada para captar o ar do ambiente, possibilitando a visibilidade dos fungos do ar local.

Panmela Castro

Rio de Janeiro, Brasil, 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. O foco da poética de Panmela Castro é o que ela chama de "busca incessante de afeto”. No centro de sua produção estão as relações de alteridade e as questões ligadas ao sentimento de pertencimento. A artista desenvolve obras a partir de diferentes memórias, transitando pelas ruas como uma andarilha em um processo de deriva afetiva, em busca de novos vínculos e conexões com aquilo que a cerca e com a arte. Na Bienal, Castro apresenta uma série de cinco instalações de spray sobre espelho, espalhadas em diferentes espaços (Casa de Cultura Mario Quintana, MARGS e Cais). Mulher pioneira na pichação, prática até então majoritariamente masculina, a artista usa suas vivências para evocar a sensação de transgressão que cada um de nós carrega, com frases escritas na ausência de olhos julgadores. A pichação é deixada para os outros, ao passo que, por estarem escritas em espelhos, quem lê repete as frases para si mesmo.

Paulo Nenflidio

São Bernardo do Campo, Brasil, 1976. Vive e trabalha em São Bernardo do Campo, Brasil. Paulo Nenflidio trabalha na interseção entre arte, ciência e tecnologia, criando esculturas, instalações e desenhos. Sua poética costuma misturar sons, equipamentos eletrônicos, automações e gambiarras que mobilizam noções de física, controle e movimento. O resultado são obras que se parecem com bichos, instrumentos musicais ou, por vezes, máquinas de ficção científica. Em Experimento de Suspensão nº2, criada especialmente para a 13a Bienal do Mercosul, o artista suspende uma rocha a centímetros do chão utilizando um sistema de 24 roldanas com contrapesos de aço tensionados por fios de nylon. Esses fios, isoladamente, não suportariam o peso da rocha. No entanto, em conjunto, o sistema todo se mantém em um equilíbrio de forças: ao mesmo tempo em que é suspensa, a rocha também suspende os contrapesos. É possível movê-la de sua posição de equilíbrio, porém, ela sempre retornará à posição original.

Pedro Carneiro

Rio de Janeiro, Brasil, 1988. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. A imagem das carrancas, construída ao longo dos séculos, ficou fixada na memória de Pedro Carneiro. Elas emergiram das recordações da primeira carranca de que o artista tem lembrança, vista na casa do seu pai junto com o sal grosso que sua avó lhe ensinou a usar para limpar o corpo. O artista reflete sobre os ensinamentos ancestrais que atravessam o tempo e o espaço e habitam um espaço em transe, trazendo proteção. As 30 carrancas que compõem a instalação remetem aos 30 escravizados que se rebelaram em 15 de maio de 1833 na região de Carrancas, em Minas Gerais. A obra de Carneiro é uma ode ao movimento negro e à luta por liberdade. O trabalho não é apenas uma releitura de esculturas populares, mas também memória e símbolo de luta.

Pedro Matsuo

A obra de Pedro Matsuo, The Matsuo Plastic Light Show Happy Bars é composta por refletores e telas pintadas com tintura fotoluminescente. Quando o ambiente está iluminado, enxergamos o espaço da instalação com clareza. No escuro, o brilho que emana das telas ilumina o espaço. A obra joga com esses dois cenários: de clareza e escuridão. Quando as luzes são apagadas, o visitante depara-se com outro ambiente, o cenário etéreo, ébrio, provocado pela fotoluminescência. Essa relação entre os cenários, se reflete também no alfabeto criado pelo artista, que representa a junção da geometria com o orgânico, da natureza com a cidade.

Pedro Reyes

Cidade do México, México, 1972. Vive e trabalha na Cidade do México, México. Bilhões de sonhos são produzidos todas as noites e desaparecem ao alvorecer. A obra de Pedro Reyes tenta dar conta de capturar essas histórias, criando uma enciclopédia de sonhos. A Hypnopédia é construída a partir de uma pesquisa feita com o público. As pessoas foram convidadas a compartilharem seus sonhos, que foram reunidos em uma coleção de relatos os mais variados. A apresentação da obra no espaço se dá por meio de uma instalação que cria um lugar etéreo, um pouco surrealista, para o visitante relaxar e ouvir os sonhos.

Pierre Fonseca

Araçuaí, Brasil, 1981. Vive e trabalha em Belo Horizonte. A obra Brincando com Fogo parte do mito de Prometeu, que rouba o fogo dos deuses e o presenteia à humanidade. Por meio de uma investigação científica cujo objetivo é ensinar o domínio do fogo a uma inteligência artificial, Pierre Fonseca reflete sobre o entendimento ancestral do fogo e sua relação com a chama divina que ilumina a consciência dos seres humanos. Como um laboratório alquímico, a obra busca indagar sobre a ação do fogo no desenvolvimento da consciência humana, ao mesmo tempo em que resgata conhecimentos técnicos ancestrais de povos indígenas para ensiná-los a um algoritmo. O trabalho suscita reflexões sobre a inteligência artificial, que vem abrindo um novo ramo evolutivo inimaginável para a espécie humana, e também sobre o modo como o fogo revolucionou a humanidade.

Poema Mühlenberg

Rio de Janeiro, Brasil, 1979. Vive e trabalha em Brasília, Brasil. Há 19 anos, Poema Mühlenberg pesquisa o design de formas de bambu e sua interação com o corpo humano. Sua obra baseia-se no conceito de biotensegridade, o qual propõe um equilíbrio entre forças de compressão, exercidas por peças rígidas, e de tensão, geradas por peças flexíveis. Ações externas aplicadas sobre essas estruturas são distribuídas por todo o sistema, gerando um funcionamento que se assemelha muito ao do organismo humano. A artista cria dispositivos que podem ser manipulados com as mãos e reagem movimentando tiras coloridas e tecidos fluidos, em uma espécie de dança. Os bambus que compõem o trabalho foram colhidos por Mühlenberg no território que ela habita, no Núcleo Rural Córrego do Urubu, em Brasília.

Quase-oração

Diego Groisman Porto Alegre, Brasil, 1979. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil. A performance artística Quase-oração nasceu como forma de sensibilizar as pessoas sobre a gravidade da pandemia da covid-19, homenagear as vítimas e suas famílias e propor uma forma de cura para o trauma coletivo. Ao enunciar e denunciar cada morte, a performance dá voz aos dados numéricos aos quais fomos diariamente nos habituando. Realizada em lives nas redes sociais, a ação propunha romper com o clima de “normalidade” do ambiente virtual. Realizados em duplas, como forma de apoio e testemunho, os vídeos compõem um grande corpo de memória para que essa tragédia nunca seja esquecida.

Rabih Mroué

Beirute, Líbano, 1967. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha. Rabih Mroué trabalha com diferentes disciplinas e formatos, passeando entre artes visuais, performance, teatro, literatura, filosofia, teoria política e historiografia. Em suas obras, ele desafia as noções de verdade, de pesquisa e de fatos, criando obras de arte fictícias e transdisciplinares. Mroué pode ser considerado como um pioneiro da palestra-performance – ou “palestra não acadêmica”, como ele prefere chamá-la –, meio escolhido por ele para apresentar sua pesquisa artística. Seu trabalho pode ser entendido como uma forma de “reocupar” os contestados eventos político-históricos da Guerra Civil no Líbano. Ao interrogar a complicada relação entre memória individual e coletiva, revisitando a história oficial, ele combina a ficção artística com uma análise escrupulosa das realidades culturais, sociais e políticas.

Rafael Lozano-Hemmer

Cidade do México, México, 1967. Vive e trabalha em Montreal, Canadá. O artista Rafael Lozano-Hemmer trabalha na interseção entre arquitetura e performance, usando diferentes tecnologias e criando plataformas para a participação do público. Ele costuma qualificar seus trabalhos como "incompletos e fora de controle", uma vez que são desenvolvidos a partir da interação dos visitantes. No vídeo Vocal Folds (2019), atores leem fragmentos do Nono Tratado Bridgewater, de Charles Babbage, no qual o autor postula que todas as palavras já ditas permanecem na atmosfera. Já Pulse Topology (2021) é composta por 3 mil lâmpadas que criam uma série de cristas e vales. Cada lâmpada brilha de acordo ao pulso de um participante, que é capturado a partir de um sensor feito sob medida para registrar os batimentos cardíacos do público. A obra Hormonium (2022) ilustra as complexas flutuações dos hormônios, apresentando sequências de ondas oceânicas quebrando e soltando no ar partículas de texto, siglas dos hormônios que são liberados de acordo com os ciclos humanos. Thermal Drift (2022) permite visualizar a dispersão do calor corporal na forma de quanta que fluem para longe do participante. Neste projeto, é utilizada uma câmera térmica para detectar calor e um sistema de partículas para mostrar sua dispersão, enquanto imagens computacionais revelam a fronteira porosa entre o corpo e o ambiente.

Raphael Escobar

São Paulo, Brasil, 1987. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. A obra de Raphael Escobar tensiona os limites entre drogas lícitas e ilícitas. Ao criar um ambiente que remete ao cenário de um barracão de produção de drogas, a instalação Placebo coloca o visitante em contato com uma grande mesa de aço contendo mais de 20 mil comprimidos feitos à base de café e açúcar. Uma das faces do comprimido exibe um sorriso, e a outra, um risco para parti-lo, comum em remédios. Um vídeo composto a partir de apropriações de vídeos mostra a produção de drogas legais e ilegais, enquanto as legendas narram um passo a passo das etapas baseado na produção de café. A intenção de Escobar é confundir o espectador acerca dos limites entre ambos os tipos de substâncias e, ao mesmo tempo, refletir sobre a relação de proximidade que mantemos com essas drogas.

Shabu Mwangi

Nairobi, Quênia, 1985. Vive e trabalha em Nairobi, Quênia. As quatro pinturas apresentadas traçam uma jornada pessoal de esforço contínuo para compreender o equilíbrio entre as duas forças que nos impulsionam – o amor e a dor – e como reagimos de maneiras diferentes dependendo de qual das duas é dominante. Nesse conjunto de trabalhos, Shabu Mwangi volta seu olhar para dentro, concentrando-se em um exame de si mesmo. Preocupado com as questões de desigualdade social e a falta de empatia em relação às diferenças sociais, políticas, étnicas e religiosas, o artista busca, com sua produção, examinar o comportamento humano e a amnésia coletiva.

Sigismond de Vajay & Kevin Lesquenner + LAPSo

Sigismond de Vajay Paris, França, 1972. Vive e trabalha em Buenos Aires, Argentina. Kevin Lesquenner Brest, França, 1986. Vive e trabalha em Brest, França. A instalação Biocenosis vem sendo desenvolvida por Sigismond de Vajay desde 2013. Para o projeto apresentado na 13ª Bienal do Mercosul, o artista trabalhou em colaboração com Kevin Lesquenner + LAPSo (Laboratório de Acústica e Percepção Sonora da Universidade de Quilmes). Este é o quinto trabalho de uma série de paisagens que tenta despertar a consciência ambiental por meio da arte, fazendo uso dos códigos clássicos da história da arte. A partir dessa obra imersiva e interativa, que representa um modelo de cidade contemporânea inundada, o artista coloca em debate a fragilidade do ambiente urbano em sua fase final de degradação, procurando despertar a consciência sobre a situação ambiental crítica que vivemos hoje.

Tino Sehgal

Londres, Inglaterra, 1976. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha. Em This Element [Este Elemento], Tino Sehgal utiliza samples de música pop e tons vibracionais que se relacionam com as frequências dos chacras. Entre os trechos escolhidos, há fragmentos de músicas da banda alemã Kraftwerk e da rapper estadunidense Missy Elliot. Esses elementos ajudam a passar de uma frequência para outra, alinhando os chacras e criando um estado meditativo para quem canta e é afetado pelas ondas sonoras. Para o artista, o ato de cantar não apenas conecta corpo, mente e alma, como também permite mostrar conexões mais profundas com nós mesmos e com o que nos cerca. Em tempos de individualismo, This Element reúne um grupo de pessoas a cada duas horas para fazer algo de forma coletiva, lembrando-nos que fazemos parte de algo muito maior do que a nossa própria existência.

Transe

A mostra Transe foi a primeira experiência da Bienal do Mercosul com um edital público, de amplo acesso e com avaliação às cegas. Um salto pleno de confiança, cônscio de que tempos inextricáveis convocam a novas atitudes, a bricolagens, a construção de saberes. Dos quase 900 projetos inscritos, os 20 selecionados irão compor não apenas uma mostra de arte, mas um ecossistema: cada obra ou proposição se manifesta como formas de vida que emulam desejos e o nosso Zeitgeist. Temas como a magneto percepção que guia as aves nas migrações; a transformação que o corpo humano opera em sua identidade no mundo; as formas de comunicação entre seres vivos e inteligência artificial, são algumas das partes desta trama que Transe trança. Diversa de um processo mais tradicional de curadoria, no qual são escolhidas obras já realizadas, em Transe somos movidos por projetos, visões, ideias: estas estruturas mentais que precisam de um suporte acolhedor para tomar forma.

Túlio Pinto

A poética de Túlio Pinto é marcada pelo uso de materiais industriais como aço, concreto, vidro, borracha e tijolos, com os quais o artista constrói obras que transitam entre a escultura e a instalação, explorando os conceitos de instabilidade e transformação, equilíbrio e tensão. O projeto Batimento, uma instalação em escala urbana, mistura características escultóricas, gráficas e pictóricas. O trabalho é construído a partir de um material industrial e ordinário chamado tela fachadeira, usado para isolar fachadas de prédios em obras ou em processo de restauro, com o qual Pinto confecciona grandes vetores de cor laranja. A tela demarca um percurso suspenso no coração da cidade de Porto Alegre, utilizando as estruturas das edificações como pontos de ancoragem e lançamento. O ritmo e o movimento do desenho urbano criado pela tela oscilam entre diferentes alturas e comprimentos nos seus vários trechos, escoando como um afluente pelo corredor da avenida Borges de Medeiros em direção ao Cais do Porto – um recorte do que poderia ser a representação gráfica da frequência cardíaca da cidade.

Vitor Mizael

São Caetano do Sul, Brasil, 1982. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Em Diorama, pássaros submetidos ao processo de taxidermia são exibidos com as asas em posição de voo e o pescoço quebrado, remetendo ao momento em que esses animais se chocam contra janelas envidraçadas e morrem. A proposição de Vitor Mizael é um memento mori extremamente preciso por acondicionar o Zeitgeist – sejam as crises ecológicas, sanitárias, ou a relação dos humanos com as outras espécies, notadamente as relações sociourbanísticas da ocupação do território por grandes empreendimentos imobiliários. Poderíamos imaginar o instante em que um pássaro se choca contra um vidro (esta estranha matéria transparente que cerca o mundo dos humanos) como a brutal tomada de consciência de que a realidade, o mundo no qual vivia, é diversa do que seu discernimento concebia. Esta epifania é, com frequência, seguida da morte. A obra de Mizael, representando esse instante estagnado, age como um conto admonitório sobre os riscos de atravessar dois mundos. Os pássaros utilizados por Mizael foram recolhidos após sua morte natural.

Vivian Caccuri

São Paulo, Brasil, 1986. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Por meio de objetos, instalações e performances, as obras de Vivian Caccuri criam situações que desorientam a experiência diária e, por consequência, interrompem significados e narrativas aparentemente tão entranhadas como a própria estrutura cognitiva. A série Fantasma Roupa consiste em uma peça escultórica que deriva da pesquisa da artista sobre os mosquitos e, neste caso em particular, sobre a indumentária usada pelos colonizadores para se proteger das picadas. As esculturas ganham forma na metamorfose entre inseto e humano, criando um elemento interespecífico, um animal translúcido vindo do delírio febril, transformando proteção em exposição.Gilberto Gil (BR), Fausto Fawcett (BR), Wanlov (Ghana) e lançou seu projeto musical Homa em 2016. Seus trabalhos sonoros e composições já foram transmitidas em diversas rádios como Resonance FM (Londres), Kunstradio (Viena) e Mirabilis (Rio de Janeiro). Em Princeton escreveu o livro "O que Faço é Música", investigando os primeiros discos de vinil feitos por artistas plásticos no Brasil, publicado pela 7Letras e vencedor do Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música em 2013.

Walid Raad

Chbanieh, Líbano, 1967. Vive e trabalha entre Beirute, Líbano, e Nova York, Estados Unidos. Integrando o The Atlas Group (1989-2004), o artista desenvolveu obras que partem de encontros de diferentes naturezas que aconteceram no Líbano nos últimos 30 anos. São situações que parecem deixar rastros peculiares e documentos estranhos na forma de fotografias, fitas de vídeo e cadernos. Enquanto procurava e não encontrava esses documentos, Raad passou a produzi-los como forma de reviver as situações e seus protagonistas imaginários. Em Comrade leader, comrade leader, how nice to see you _ I, o artista cria uma instalação inspirada na história das muitas milícias que se formaram durante as guerras libanesas, especialmente a milícia cristã de direita chamada Forças Libanesas, que controlava a região oriental do país. Apoiadas com dinheiro e armas por diferentes patronos, era comum que elas mudassem de lado, uma hora sendo sustentadas pela Síria, outra hora por Israel, em seguida pelo Iraque, retornando ao apoio da Síria e assim sucessivamente. Como forma de prestar homenagem aos seus patronos, integrantes da milícia nomeavam e renomeavam três belas cachoeiras da região com o nome de seus líderes. A obra de Raad faz uma alusão a essa incessante troca de poder, criando uma queda d'água gigante que inunda o espaço ao seu redor.

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