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Seminário Internacional Bienal 12

Atualizado: 22 de fev. de 2021



Porto Alegre, 2019

17-19 de outubro


Informações:

http://www.bienalmercosul.art.br/seminario-internacional


Dúvidas e apresentação de propostas :



Data limite para a apresentação de propostas: 1 de março de 2019


Organização

Fundação Bienal do Mercosul – Bienal 12 Porto Alegre

Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS

Curso de Artes Visuais, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, UERGS

Center for Latin American Visual Studies, The University of Texas at Austin, CLAVIS / UT

Realização

Fundação Bienal do Mercosul



A história da arte foi escrita a partir de pontos de vista e gostos que constituíram o cânone predominantemente patriarcal da arte. Como perguntaram e destacaram as Guerrilla Girls: “As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo? Apenas 6% dos artistas do acervo são mulheres, mas 60% dos nus são femininos”. Este coletivo de artistas formado nos Estados Unidos em 1985 nos oferece gráficos com porcentagens que caracterizam as coleções e as exposições de todos os museus do mundo. Apesar de sua maioria demográfica, as mulheres são marginalizadas no mundo da arte. De diversas maneiras as artistas fizeram intervenções na lógica que articula o cânone da arte. Em primeiro lugar o fizeram sutilmente; atualmente seus apontamentos e ações tomaram força, acompanhando, amplificando e ativando a crescente onda do feminismo internacional.

Transformar o mundo através da arte: tal é o desejo que alimentou o ativismo artístico durante o longo século XX. O ativismo feminista é, principalmente, a voz de um desacato generalizado em relação ao poder masculino que regula o estado do mundo e da arte. Um ativismo que opera a partir da realização de imagens, ações ou discursos críticos que intervêm nas formas do poder para erodi-lo. Interferem quando participam das lutas sociais ou quando se manifestam sobre a invisibilização das mulheres no mundo da arte. Ao menos desde o século XVIII encontramos vozes dissidentes. Vozes que se posicionam sobre o estatuto da mulher em geral, sobre as normativas de gênero e sexualidade e sobre as mulheres artistas em particular. Em uma arqueologia da cultura do Ocidente recortam-se os comentários sobre arte que podem ser encontrados nos escritos de Germaine de Staël, Élisabeth Vigée-Lebrun, Marie d’Agoult, ou B., atentas à instrução das mulheres em função de sua emancipação e inclusive, como se pode acompanhar nos escritos de Johanna von Haza, a um questionamento das identidades de gênero e de raça.

Desde o final dos anos sessenta o feminismo inscreveu um capítulo específico e radical na arte do pós-guerra. Trata-se de propostas estéticas cujas estratégias romperam as bases patriarcais do gosto para trabalhar a partir de fazeres e materiais não hierarquizados no repertório da grande arte (tecidos, rendas, bordados, cerâmicas, porcelanas, vernizes e esmaltes, marginalizados pelas linguagens maiores da pintura e da escultura), ou com temas femininos (a casa, a maternidade, as substâncias tabu do corpo). Tratou-se e se trata de rebeliões da linguagem e de iconografias que se integram como zonas de investigação e como espaços de ativismo: desde a afirmação de que o pessoal é político, até as denúncias de abusos, violações, violências físicas e psicológicas contra a mulher. Trata-se de sinais que conformam também o núcleo da agenda contemporânea, na qual é central a luta contra os feminicídios. Trata-se dos direitos sobre o próprio corpo.

A experiência do espaço Womanhouse em Los Angeles ou a obra de Judy Chicago ou Miriam Schapiro são as cenas e as vozes a partir das quais se ativou o feminismo artístico no início dos anos setenta. O cinema, as revistas, as pedagogias foram campos do ativismo artístico. Foram-no as imagens das artes pictóricas e escultóricas, e também a intensa politização dos corpos que se produziu a partir das performances, da fotografía ou do vídeo em artistas como Esther Ferrer, Mónica Mayer, Maris Bustamante, Lea Lublin ou Josely Carvalho. A psicanálise freudiana ou lacaniana, a sociologia, em articulação com as sucessivas agendas do feminismo, formaram os campos de conhecimento a partir dos quais atuaram para desarmar os estereótipos sobre a mulher e o binarismo. Cartazes urbanos, estênceis, estatísticas, são as linguagens gráficas a partir das quais deram e dão visibilidade a suas ações na esfera pública. No ativismo feminista contemporâneo podemos mencionar as exposições de Ciu Xiuwen e Cui Guang Xia na China, as estratégias das Pussy Riots na Rússia, as Mujeres Públicas ou Nosotras Proponemos na Argentina, as Trabajadoras del Arte y la Cultura no Chile, a carta coletiva “We are not surprise” nos Estados Unidos, a carta sobre o machismo no festival de fotografia de Arlés na Europa, a obra de Lady Skollie contra as violações na África do Sul, ou o graffiti de Panmela Castro sobre os altos índices de violência contra as mulheres nas ruas do Rio de Janeiro, ou o ativismo negro e feminista levado adiante desde os anos setenta por Suely Carneiro em São Paulo.

Existe um intenso e crescente ativismo curatorial que se centra em exposições que contribuem para gerar corpus de obras de artistas invisibilizadas pelas histórias da arte e mapas globais ou regionais que permitem dar corpo a uma história da arte que contesta àquela dominante, baseada em uma tradição na qual artistas homens constituem de 80 a 90% do relato principal – porcentagem que apenas recentemente começa a mudar, precisamente, a partir do ativismo artístico feminista. Aquilo que na década das mulheres (1975-1985) não chegou a se modificar começa a dar sinais de uma transformação.

Desde os anos 70 é crescente o ativismo artístico vinculado a estéticas lésbicas, gay, trans, queer/cuir centradas em sexualidades fluídas, em corpos feminilizados e na problematização dos essencialismos. São visíveis em grupos como Chaclacayo ou no Museo Travesti de Giuseppe Campuzano, ambos no Peru ou nas propostas de Jota Mombaça no Brasil. Estéticas lésbicas, gay, trans, intersexuais, inclui-se na denominação proposta como feminismo(s): o feminino ou feminilizado como o outro excluído e marginalizado.

Estas menções apenas começam a desenhar um marco de referência sobre uma cena que se expande na contemporaneidade e cujos casos específicos este seminário tem como propósito cartografar e investigar.











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